terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

"Freud explica o Carnaval"

Segundo Freud, a nossa mente é como uma casa em que vivem três habitantes. No térreo, mora um sujeito simples e meio preocupado, chamado Ego. Ele não é propriamente o dono da casa, mas cabe-lhe pagar a luz, a água, o gás, além de varrer o chão, lavar a roupa e cozinhar. Estas tarefas fazem parte da vida quotidiana, Ego até não se queixaria. O pior é ter de conviver com os outros dois moradores.



No andar superior, decorado em estilo austero, com estátuas de grandes vultos da humanidade e prateleiras cheias de livros sobre leis e moral, vive um irascível senhor, chamado Superego. Aposentado – aos pregadores de moral não resta muito a fazer em nosso mundo – Superego dedica todos os esforços a uma única causa: controlar o pobre Ego. Quando liga, lembra-se de alguma piada boa e ri, ou quando o Ego se atreve a cantar um sambinha, Superego bate no chão com o bastão que carrega sempre, exigindo silêncio. Se Ego resolve trazer para casa uma namorada ou mesmo uns amigos, Superego, da sua janela, adverte: não quer festinhas no domicílio.

No porão, sujíssimo, mora o terceiro habitante da casa, um troglodita conhecido como Id. Id não tem modos, não tem cultura e na verdade mal sabe falar. Em matéria de sexo, porém, tem um apetite invejável. Superego, que detesta estas coisas, exige que o Ego mantenha a inconveniente criatura sempre presa. E é o que acontece durante todo ano.
No Carnaval, porém, Id solta-se. Arromba a porta do porão, salta para fora e vai para a folia, arrastando consigo o perplexo Ego que, num primeiro momento, resiste, mas depois acaba por aderir. E aí são três dias de samba, bebida, mulheres.

Quando volta para casa, na quarta-feira, a primeira pessoa que o Ego vê é o Superego, olhando-o fixo da janela do andar superior. Ele não precisa dizer nada, Ego sabe que errou. Humilde, enfia-se em casa, abre a porta do porão, para que o saciado Id retorne a seu reduto, e aí começa a penitência, que durará exactamente um ano.
De vez em quando, Ego tem um sonho. Ele sonha que os três fazem parte de um mesmo bloco carnavalesco, e que, juntos, se divertem a valer – o Superego é, inclusive, o folião mais animado. Mas, isto é, naturalmente, sonho.”

Autor: Por Moacir Sciliar, in psicologia msm


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